S.O.S. Suínos
SUINOCULTURA
Informativo Técnico 73
Por Romualdo Venâncio.
A Imagem é fundamental.
O aumento do consumo da carne suína é o ponto de partida para o crescimento da atividade no Brasil. Para que isso aconteça é preciso vencer o preconceito dos consumidores.
A suinocultura brasileira está investindo em qualidade, produzindo carne com baixos índices de gordura, aprimorando a tecnologia nas granjas e cuidando da higiene, alimentação e genética, atualizando-se para acompanhar as exigências do mercado. Em poucas palavras está fazendo a sua parte. Apesar de todo este trabalho, o consumo da carne suína continua baixo. Onde estão as causas?
Para muitos, a culpa é da deficiente comunicação entre o setor produtivo e o consumidor. Na pratica, se o comprador não for bombardeado com informações, dificilmente saberá que a suinocultura está trabalhando pesado e que a sua idéia sobre a carne suína já não corresponde à realidade. É o próprio setor que tem de mostrar a sua cara, e é o que vem fazendo. A suinocultura está investindo forte em um projeto de marketing para reverter a imagem negativa que ainda trava o seu desenvolvimento.
A iniciativa partiu da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos. A ABCS contratou uma assessoria de marketing para cuidar, única e exclusivamente deste problema. O trabalho está baseado em levantar o maior numero de informações sobre o setor e passa-las para o mercado, reforçado pelo apoio de profissionais que passem credibilidade ao consumidor, como médicos e nutricionistas. Estas informações resultam de estudos feitos no Brasil e no exterior e que trazem resultados positivos para a atividade. "Quando você coloca estudos científicos mostrando a realidade. a reação só pode ser positiva. A base de qualquer trabalho de marketing bem-sucedido a longo prazo é colocar a verdade", afirma João Luiz Seimetz, ex-presidente da ABCS e um dos maiores responsáveis pelo inicio da campanha.
Ainda há muita gente acreditando que o suíno é criado em chiqueiros e que sua carne pode ser prejudicial à saúde devido aos níveis de gordura e colesterol. A solução é conseguir mudar esta mentalidade e provar que a carne suína é saudável. Em se tratando de Brasil, este trabalho torna-se difícil porque confronta-se a uma idéia muito antiga e que está enraizada na cabeça do consumidor. Para que ele deixe de pensar desta forma, é preciso mostrar que as granjas estão tecnificadas, e que se atualizaram tecnologicamente. Por este motivo, não foi determinado um prazo para que se atinja o objetivo da campanha, e também porque a ABCS precisa levantar os recursos financeiros necessários. A propagação deste trabalho de marketing vai depender também das associações estaduais, pois é fundamental que elas levem orientação aos criadores para que o segmento fique cada vez mais forte. Os estudos também estão sendo enviados para autoridades governamentais, pois o processo envolve também o Estado.
PRIORIDADES E MITOS, - Alguns tabus sobre a carne suína precisam cair. Talvez o maior deles seja o colesterol, 6l mg de colesterol em cada 100 gramas de carne suína, comparada a carne bovina com 70 mg em cada 100 gramas. Estes números fazem parte de estudos feitos pelos professores Renato Baruffaldi e Maricê Nogueira de Oliveira, do departamento de Tecnologia de Alimentos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de São Paulo (USP). Eles ainda confirmam que não existem estudos comprovando que a carne suína seja de difícil digestão e que o nível de colesterol seja maior do que nas outras carnes. Portanto, nenhum confronto com o que estão defendendo, a não ser a própria crendice da população.
Outro especialista no assunto o prof. Dr. José Ernesto dos Santos, do Hospital das Clinicas de Ribeirão Preto, entra na campanha para a queda do mito do colesterol na carne suína, com base em sua experiência e nos dados do American Meat Institute. Estes dados não só mostram a realidade do colesterol como também a riqueza em proteínas da carne suína.
"Estas informações só vem a confirmar que o problema não é o colesterol, mas sim a falta ou o mal uso da comunicação para comprovar esta afirmação. O processo de marketing tem que atacar o problema direto na raiz, tem de fazer a divulgação destes estudos de forma bastante agressiva, para que consiga mudar a mentalidade do consumidor", entende Valdomiro Ferreira JR., atual presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos ABCS.
Outro tema que merece uma atenção toda especial dos criadores e da industria, refere-se ao investimento em qualidade. Quanto mais se investir nesse sentido, mais fácil será combater a imagem distorcida sobre a suinocultura brasileira, tanto no mercado nacional como no internacional. "A qualidade total é hoje um dos temas mais discutidos em qualquer setor empresarial, e por ser sinônimo de desenvolvimento não poderia estar fora do setor suinícola", explica Ferreira. A satisfação das necessidades dos consumidores e a produtividade são os dois principais itens nos quais baseiam-se as exigências de qualidade do setor, principalmente porque este é o fator que mais preocupa o consumidor na hora da compra.
Para que se atinjam os resultados positivos, esta preocupação deve estar em todas as etapas que englobam a suinocultura. Ela tem que estar na granja, na industria, nos distribuidores e com os próprios consumidores. " Afinal de contas, é a ele que se destina todo o processo", reforça o presidente da ABCS. Está aí lançado um grande desafio à suinocultura nacional. O maior desenvolvimento da atividade depende diretamente de todos os segmentos produtivos. Que a proposta de marketing não fique no papel.
São Paulo, 14 de Outubro de l.995.