Informativo Técnico Nº. 119

 IMPORTÂNCIA DOS SUÍNOS NA TRANSMISSÃO DE ZOONOSES – PARTE I

 

INTRODUÇÃO

 

Utiliza-se a definição de zoonose para todas aquelas doenças que são transmitidas entre os homens e os animais. A transmissão de doenças pode ser facilitada quando são utilizados métodos intensivos de produção, concentrando um grande número de animais. Nessas situações, um agente patogênico pode se alastrar rapidamente na população animal, podendo alcançar inclusive o homem. Por essas razões é que se tem grande preocupação no diagnóstico e controle das zoonoses, principalmente em criações intensivas, como na suinocultura.

Até o momento, existem mais de 40 zoonoses relatadas envolvendo suínos, sendo algumas de etiologia bacteriana ou viral e outras parasitárias. No primeiro grupo estão a meningite estreptocócica, influenza, micobacterioses, brucelose, erisipelose, leptospirose e salmonelose. As parasitárias incluem a triquinelose, tungíase, toxoplasmose e cisticercose. Existem outras zoonoses de importância relativamente menor no nosso meio, como as causadas por Bacillus anthraxis, Clostridium perfringens, Cytomegalovirus, Pasteurella multocida, Brachyspira pilosicoli, Staphylococcus spp. e Yersinia spp.

 

MENINGITE ESTREPOCÓCICA

 

A meningite estreptocócica é uma doença infecto-contagiosa que atinge principalmente leitões nas fases de maternidade, creche e recria-terminação. O agente etiológico é o Streptococcus suis (S. suis), sendo atualmente, um dos patógenos mais importante nas criações tecnificadas de suínos. O S. suis apresenta 35 sorotipos, porém nem todos têm a mesma virulência. O agente está disseminado em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde o sorotipo mais prevalente é o 2.

O habitat natural do S. suis é o trato respiratório superior (tonsilas e cavidade nasal), trato digestivo e genital. Geralmente, a doença é introduzida nos rebanhos através de suínos portadores clinicamente sadios (leitoas de reposição, cachaços e leitões para engorda). Os focos costumam aparecer quando animais suscetíveis, sob condições de estresse, são expostos ao agente eliminado pelos suínos portadores.

No homem, a meningite estreptocócica é considerada uma doença profissional, atingindo geralmente pessoas que trabalham em contato direto com suínos (veterinários, produtores, açougueiros, trabalhadores de frigoríficos). As manifestações mais comuns em humanos são a meningite, seguida por septicemia e endocardite. A maioria dos casos em humanos é atribuída ao tipo capsular 2, que é o de maior ocorrência no Brasil. A rota mais freqüente de transmissão é através de lesões na pele.

  

MICOBACTERIOSES

 

As micobacterioses dos suínos são infecções que provocam lesões granulomatosas localizadas principalmente, nos linfonodos mesentéricos e da cabeça. São provocadas por bactérias do gênero Mycobacterium. As micobactérias são classificadas em dois grupos: as tuberculosas, que são M. bovis e M. tuberculosis, e as não-tuberculosas ou atípicas, incluindo-se M. avium, M. intracellulare, M. fortuitum, M. scrofulaceum e M. silvaticum, entre outros. Suínos são suscetíveis à infecção por M. tuberculosis, M. bovis e M. avium.

            A ocorrência de infecção por micobactérias em suínos está relacionada com a possibilidade de contato direto ou indireto com bovinos, humanos, aves ou outros suínos contaminados. A principal via de infecção para os suínos é a digestiva, através da ingestão de leite ou produtos lácteos contaminados, resíduos de alimentos, fezes de aves ou de bovinos. O contato com solo, água e materiais usados para cama, como a serragem ou a maravalha, pode ser fonte de contaminação, principalmente, pelo M. avium.

            Suínos infectados pelo M. avium apresentam lesões que normalmente ficam limitadas aos linfonodos do sistema digestivo e da cabeça. As lesões causadas por M. bovis e M. tuberculosis, geralmente, provocam lesões disseminadas em outros órgãos como fígado, baço e pulmão. Porém, macroscopicamente é muito difícil diferenciar as lesões causadas pelas diferentes micobactérias.

 

BRUCELOSE

 

A brucelose é uma doença de origem bacteriana, que causa transtornos reprodutivos, tais como aborto, endometrite, orquite, perda da libido e infertilidade. O agente etiológico mais comum na brucelose suína é a Brucella suis, que é subdividida em 5 sorotipos. O suíno é o hospedeiro mais freqüente para os sorotipos 1 e 3. Já a B. abortus também pode infectar os suínos.

A doença apresenta uma morbidade alta, que se situa entre 50 a 80%, sendo as vias mais importantes de infecção a digestiva e a genital. A bactéria é transmitida de suíno para suíno, principalmente pela ingestão de alimentos ou água contaminados por descargas vulvares, ou pela ingestão de fetos abortados e membranas fetais. Cachaços com infecção nos órgãos genitais (figura 1) podem transmitir a doença através do sêmen. Os suínos infectados apresentam febre regular ou intermitente, sendo que os sinais clínicos podem ser transitórios e a morte é de rara ocorrência. O aborto pode ocorrer em qualquer período da gestação, sendo mais influenciado pelo tempo de exposição ao agente do que pelo período da gestação.

O homem se contamina através do contato direto com animais infectados ou indiretamente, através da ingestão de produtos de origem animal ou, mais raramente, por inalação de aerossóis. A brucelose suína tem um risco proporcionalmente maior que a brucelose bovina, pois apresenta um maior grau de patogenicidade para humanos. Em suínos doentes, existe um grande número de B. suis nos tecidos, proporcionando uma grande área de exposição para as pessoas que estão em contato com suínos. A infecção por B. suis em humanos é uma doença ocupacional, atingindo produtores, veterinários e trabalhadores de frigoríficos. É uma enfermidade septicêmica, que começa de forma brusca, manifestando-se com febre contínua ou intermitente, com calafrios e suor intenso. Cursa com irritação, nervosismo e depressão. Os sintomas mais comuns em humanos são insônia, impotência sexual, constipação, anorexia e dores generalizadas.

 

Fig 001

Figura 1: Orquite em cachaço, causado por Brucelose.

Fonte: Retirado do site Suinocultura em foco.

 

ERISIPELA

 

A erisipela, também conhecida como ruiva, é uma enfermidade do tipo hemorrágica, causada pela bactéria Erysipelothrix rhusiopathiae, um bacilo gram-positivo.

O principal reservatório do E. rhusiopathiae é o suíno doméstico. Entretanto, mamíferos selvagens e pássaros também podem ser fonte de infecção. É estimado que 30 - 50% dos suínos sadios alojam o E. rhusiopathiae nas tonsilas e outros tecidos linfóides, e podem eliminar a bactéria nas fezes e secreções oronasais, criando uma importante fonte de infecção. As bactérias contaminam o solo, a água, a cama e os alimentos, que servem como fonte de infecção. A penetração do agente ocorre pela ingestão de alimentos ou água contaminados, bem como através de ferimentos na pele. Em suínos, a doença é caracterizada por septicemia, lesões cutâneas (figura 2), poliartrites, lesões nas válvulas cardíacas, pode ocorrer aborto e lesões de células espermiogênicas. Em humanos, E. rhusiopathiae causa o erisipelóide, uma lesão eritematosa e edematosa de pele localizada (geralmente nas mãos e dedos), podendo haver inflamação nas articulações da região. É caracterizada como uma doença ocupacional, infectando pessoas que trabalham com manipulação ou processamento de carne, agricultores, veterinários, trabalhadores de curtumes e laboratoristas.

 

Fig 002

Figura 2: Lesões cutâneas em suíno, características de erisipela.

Fonte: Retirado do site Suinocultura em foco.

 

Texto de Ana Maria Jung Vargas, Fernando Bortolozzo, Ivo Wentz e Marisa Cardoso, no site Suinocultura em foco.

 

CODIGO

EXAMES

PRAZO DIAS

S16

ISOLAMENTO-Streptococcus suis

Material: Cabeça ou swab do sistema nervoso central, auticulações e pulmão.

5

HISTO CE

HISTOPATOLOGIA - COLORAÇÃO ESPECIAL (BAAR, Zichl-Neelsen para micobacterioses)

Material: linfonodos, fígado, baço e pulmão.

7

S04

BRUCELOSE SUINA – AAT

Material: Sangue total ou soro.

2

S38

ERISIPELOSE (RUIVA) SOROLOGIA

Material: Sangue total ou soro.

3

S02

Leptospira   

Material: Sangue total ou soro.

4

A18/S

PESQUISA DE Salmonella SUINA

Material: Swab retal ou fezes.

5

S61

TOXOPLASMOSE     

Material: Sangue total ou soro.

2

S23

EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES

Material: Fezes recentes

1

BIO

HISTOPATOLOGIA - BIOPSIA   

Material: Músculo ou órgãos com suspeita de cisticercos, em formol 10%

5

 


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