Autor : Carlos César Pereira Nogueira; Iran José Oliveira
da Silva.
RESUMO
A carne suína é a mais consumida no mundo. A
suinocultura brasileira movimenta cerca de US$ 1,56 bilhões
anuais, é praticada em 46,5% das 5,8 milhões de propriedades rurais do Brasil,
das quais 80% possuem área inferior a
ESTADO DA ARTE.
No Brasil, até a década de 70, os dejetos de suínos não constituíam fator de
preocupação, pois a concentração de animais por unidade de área era pequena. O
sistema confinado de produção, a partir dos anos 80, aumentou consideravelmente
a produção de dejetos, que lançados nos mananciais de água, passaram a gerar
desequilíbrios ecológicos, por causa da alta demanda bioquímica de oxigênio,
que é cerca de 260 vezes superior à do esgoto doméstico (OLIVEIRA, 1993). A
criação de suínos no Brasil é uma atividade predominantemente de pequenos
produtores e aproximadamente 80% dos suinocultores possuem propriedades de até
No Brasil, a suinocultura é explorada de duas formas diferentes. A primeira
concentrada nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste responsável por 90% da
produção brasileira, é tecnificada e, embora alcance
índice de produtividade entre os melhores do mundo, vem apresentando problemas
ambientais. A outra suinocultura, predominante nas regiões Norte e Nordeste, é rústica e possui baixos índices de produtividade e
sanidade.
Segundo Bohley (1990), o aumento do processo de
integração, como são chamados os contratos entre produtores e os frigoríficos,
elevaram a concentração de animais por unidade de área, o que tem levado a uma
produção de grandes quantidades de resíduo. De acordo com Matos et al. (1997), a suinocultura é
uma atividade concentradora de dejetos com alta carga poluidora para o solo, ar
e água. Por isso, muitos estudos têm sido desenvolvidos para viabilizar a
utilização desses dejetos, minimizando seu impacto no ambiente.
A geração de poluentes através das fezes, urina e gases demonstram que a
eficiência do processo de digestão do suíno é limitada, o que faz com que a
suinocultura seja uma das atividades agropecuárias com maior impacto ambiental,
e como tal, intensivamente vigiado por órgãos de proteção ambiental. Tanto que
nos países do primeiro mundo essa atividade está proibida de expandir, ou até
mesmo incentivada a extinguir.
A quantidade total de dejetos líquidos produzidos varia de acordo com o
desenvolvimento ponderal dos animais. Para os suínos, os valores são
decrescentes de
Diversos autores ressaltam as vantagens da utilização de esterco na
agricultura: a uniformização da temperatura, o aumento do poder tampão, a
intensificação das atividades microbianas e enzimáticas dos solos (KIEHL, 1985
e VIEIRA, 1997); elevação dos teores de N, K, P, S, Ca e Mg do solo (DRUMOND 2003); melhoria da condutividade
hidráulica e da capacidade de retenção de água, no aumento de porosidade e na
redução da densidade do solo (FELTON, 1992; citado por DRUMOND, 2003);
alteração das propriedades biológicas do solo que servem como fonte de alimento
para os seus microrganismos heterotróficos (CARDOSO, 1992); aumento do teor de
matéria seca em pastagem (KONZEN, 2002).
Quando os dejetos de suínos são incorporados, ocorre uma estimulação da
atividade microbiana e as exigências de oxigênio por esses microrganismos,
superam a taxa de difusão do oxigênio atmosférico, tornando o ambiente
anaeróbico, a degradação da matéria orgânica não se completa, provocando
redução no pH do solo e produção de gases
malcheirosos. Se a taxa de mineralização do material
orgânico for reduzida, os nitratos são convertidos em nitrogênio elementar e
óxido nitroso pelo processo de denitrificação,
(VIEIRA, 1997).
Quantidade de ARS maiores as equivalente a
Essa mesma prática, visando atender as necessidades de N causa o acumulo de
P (BURNS et al. 1985; NOVAIS
e SMITH, 1999; citados por Gonçalves (2002). Esses autores sugerem que a
quantidade de esterco deve ser baseada na análise do "P disponível"
do solo. Burns et al. (1985) citados por Gonçalves
(2002), conclui que quantidades de N equivalentes a
Seganfredo et
al. 2004, analisando as águas de quatro rios de regiões suinícolas
de Jaborá, SC, em três amostragens, em pelo menos uma
delas, encontraram valores excessivos em 93% das amostras para coliformes
totais e em 87% para coliformes termotolerantes. E
afirmam que os dejetos suínos não foram as únicas
fontes de contaminação dos rios do meio rural, mas o seu uso como fertilizante
do solo representa risco de poluição microbiana das águas.
De acordo com Vieira (1997), metais pesados como Zn e Cu podem ser
acumulados no solo em níveis tóxicos, principalmente quando o pH é inferior a 6. Estudos efetuados em Taiwan na cultura de
cana-de-açúcar irrigada com efluentes de suinocultura, encontraram níveis de
metal no solo, em mg kg -1
, variando de
Campelo (1999) concluiu que a aplicação de lâminas de águas residuárias com concentração de sólidos totais superior a
15 mg L -1
provoca forte selamento superficial do solo. O autor
afirma ainda que, as águas residuárias da
suinocultura, podem ser utilizadas em áreas de cultivo agrícola, por
constituírem uma rica fonte de nutrientes, porém as lâminas a serem aplicadas
deverão ser calculadas com base na quantidade de nutrientes e outros sais que
serão incorporados no solo.
Segundo Rhoades et al. (2000) a utilização de águas salinas depende
das condições de uso, incluindo-se culturas, clima, solos, métodos de irrigação
e práticas de manejo, o que torna as classificações de água quanto à qualidade
não aconselhadas para avaliar a adequabilidade água para irrigação. A
salinidade é quantificada de forma indireta através da medição da condutividade
elétrica da solução. A condutividade elétrica média da ARS é de 6,34 dS.m (BRANDÃO et
al, 1999). Com essa condutividade elétrica ARS é
imprópria para irrigação.
O tratamento preliminar de águas residuárias
objetiva apenas a remoção dos sólidos grosseiros, enquanto o tratamento
primário visa à remoção de sólidos sedimentáveis e parte do material orgânico.
Em ambos, predominam os mecanismos físicos de remoção de poluentes e, no
tratamento secundário, predominam mecanismos biológicos, cujo objetivo é,
principalmente, a remoção de material orgânicos e
eventualmente, nutrientes (nitrogênio e fósforo). O tratamento terciário objetiva a remoção de poluentes específicos
(usualmente tóxicos ou compostos não biodegradáveis) ou, ainda, a remoção
complementar de poluentes não suficientemente removidos no tratamento
secundário, sendo este tratamento muito raro no Brasil (VON SPERLING, 1996).
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
O sistema confinado concentra a produção de dejetos, que lançados nos
mananciais de água, passaram a gerar desequilíbrios ecológicos, por causa da
alta demanda bioquímica de oxigênio, que é cerca de 260 vezes superior à do
esgoto doméstico. Aproximadamente 50% do plantel brasileiro é
criado confinado, produzindo 10L de dejetos por cabeça por dia. Os cerca de
17.500.000 porcos produzem
A tecnologia de tratamento de dejetos atualmente recomendada no Brasil
preocupa-se apenas com a digestão da matéria orgânica. Todavia o problema
causado pelo excesso de sais fica pendente. Segundo alguns autores a
condutividade elétrica da ARS varia de
Se tomarmos como exemplo uma suinocultura com 1000 cabeças, para a
utilização da ARS para irrigação teríamos que dispor de uma vazão extra de 40.000L.dia
-1 (considerando uma demanda de evapotranspiração
de 5mm.dia - 1 ), e ainda dispor de uma área de 5,0ha. Se contarmos
que no período de chuvas não se irriga, essa área no mínimo dobraria, exigindo
ainda a construção de um reservatório com capacidade de 1.800m3
, mesmo assim com restrições à geologia regional, do tipo de solo, época
e forma de aplicação, e constante monitoramento.
Uma outra solução seria o tratamento da ARS pelo
sistema de osmose reversa. Esse processo consiste em pressorizar a água para fazê-la passar por um filtro de
membrana semipermeável, com poros microscópicos, que retém sais,
microorganismos e outras impurezas, porém isso demanda investimentos e altos
custos de manutenção, o que por enquanto está muito aquém da capacidade de
pagamento da grande maioria dos suinocultores brasileiros.
O problema exige atenção e comprometimento dos segmentos seguimentos sociais envolvidos: da fiscalização ambiental em ser mais
veemente nas exigências, do governo em disponibilizar linhas de créditos
subsidiados, inclusive do consumidor ao se dispor a pagar esses custos.