Autor : Prof. Elizabeth Santin.
As micotoxinas
formam parte de um grande grupo de toxinas produzidas por bolores e que podem
ser muito tóxicas para animais, plantas e humanos. Atualmente conhecemos
aproximadamente 300 diferentes micotoxinas e dados da
ONU mostram que elas estão presentes em mais de 30% dos cereais produzidos em todo
o mundo.
O desafio com micotoxicoses reside no fato de que
é muito difícil diagnosticá-las claramente. No entanto, todo avicultor sabe que
as micotoxinas têm um papel importante no baixo
desempenho dos animais. Ao diagnosticar uma micotoxicose
é importante avaliar o histórico e os sinais clínicos, bem como as lesões
hepáticas, já que o fígado é o órgão mais afetado pelas micotoxinas.
Técnicas de amostragem inadequadas ou incorretas são a causa mais freqüente
de erros na análise de micotoxinas. As micotoxinas nunca estão homogênea ou uniformemente
distribuídas nos cereais ou na ração armazenados. Elas se concentram mais em
áreas de alta umidade e/ou níveis mais elevados de oxigênio. Na maioria dos
casos a amostragem é feita em áreas pequenas do recipiente de estocagem. Quando
essas amostras pouco representativas são analisadas, formase
uma imagem incorreta das micotoxinas presentes na
ração. Na granja, quando há suspeita da presença de micotoxinas,
muitas vezes os animais já ingeriram toda a ração e não sobram amostras para
serem analisadas. Além disso, em condições de campo, pode haver simultaneamente
mais de uma micotoxina na ração; mesmo se o resultado
de uma análise apontar níveis baixos de determinada(s) micotoxina(s),
isso não significa que outras micotoxinas para as
quais não foi feita análise não possam também estar presentes. Múltiplas micotoxinas podem interagir sinergicamente tornando a ração
mais tóxica.
Sob o ponto de vista epidemiológico, o crescimento fúngico
poderia ocorrer em diferentes fases do desenvolvimento da planta. Eles poderiam
invadir as sementes antes da colheita quando os cereais ainda estão no campo,
ou crescer durante a estocagem na fábrica de ração ou na granja. Bolores também
podem se desenvolver durante o processamento, já que os misturadores aumentam a
temperatura e a umidade da ração. Finalmente, o crescimento fúngico
e a produção de micotoxinas poderiam ocorrer nos
comedouros quando eles não são adequadamente limpos.
Fica evidente com o texto acima que para entender completamente o impacto
das micotoxicoses na avicultura é necessário
compreender melhor a epidemiologia do crescimento dos fungos e da produção de micotoxinas. Baseando-se nesses conhecimentos, o produtor
pode estabelecer práticas adequadas para prevenir ou minimizar o risco de micotoxicoses em seus animais. Também é importante aprender
a determinar o custo das micotoxicoses.
O Custo das Micotoxicoses na Avicultura e micotoxinas versus outros fatores
É importante saber como determinar o custo de micotoxicoses
destacando o custo/ganho da prevenção do problema. No entanto, o custo das micotoxicoses pode ser muito difícil de ser calculado, já
que a redução no desempenho ou a ocorrência da doença clínica podem variar sob
condições diferentes de ambiente e manejo. O impacto financeiro das micotoxicoses sobre uma criação comercial de matrizeiras de frangos de corte pode ser calculado
calculado pela quantificação do efeito sobre a
viabilidade, a produção de ovos, a eclodibilidade e a
perda futura em produção de pintos resultantes da mortalidade. O custo da
redução na qualidade das carcaças devido às micotoxinas
também deve ser considerado. As micotoxinas podem
induzir a formação de hematomas, aumentar taxa de mortalidade durante o
transporte e contribuir para septicemia após uma imunossupressão. Quando o
sistema imunológico é prejudicado, as aves precisarão de mais medicamentos.
Como podemos saber que essas perdas em saúde animal e desempenho se
devem às micotoxinas?
Existem muitos outros fatores que podem interferir com a gravidade da micotoxicose nos animais, sendo que os mais importantes são
condições ruins de manejo e de
higiene. Há muitas evidências práticas mostrando que as condições de manejo
influenciam a resposta das aves ao desafio por micotoxinas.
Normalmente, a associação entre micotoxicose e más
condições de manejo e higiene podem aumentar o nível de estresse dos animais e
a exposição destes a patógenos, resultando em um
aumento na incidência de micotoxicoses e maiores
perdas de desempenho. Por outro lado, sob boas condições de manejo e higiene, o
custo das micotoxicoses sobre a saúde dos animais e
seu desempenho seria muito mais baixo. Isto pode ser observado quando se
comparam dois produtores que compram a mesma ração de uma mesma fábrica. Um
deles pode ter um desafio de micotoxinas maior do que
o outro simplesmente devido às condições de manejo e higiene de cada granja. O
ponto chave é conseguir identificar os fatores mais importantes que levam a um
maior desafio das micotoxinas.
"Quanto maior a porcentagem de grãos danificados, maior a
probabilidade de eles terem níveis elevados de micotoxinas
e valor nutricional mais baixo"
Infelizmente, na avicultura é quase impossível isolar uma causa quando
surgem problemas de saúde. Os complexos sistemas de produção implicam em
condições de estresse, exposição a patógenos,
problemas nutricionais e erros de manejo que podem influenciar o
desenvolvimento das aves. As diferentes combinações de todos os fatores
ocasionarão níveis distintos de gravidade das doenças. Como essa questão é
extremamente complexa, deve-se empregar, em qualquer programa de monitoramento,
uma maneira prática de reconhecer e mensurar esses vários fatores.
Programa de monitoramento para avaliar a influência e o custo das micotoxicoses sobre o desempenho e a saúde das aves de
produção
Para estabelecer um programa de monitoramento eficiente para mensurar o
impacto das micotoxicoses sobre a sanidade dos animais é necessário
compreender o impacto das micotoxinas sobre sua saúde
(imunossupressão, lesões, etc.) e saber quando elas podem estar presentes na ração.
Como discutido anteriormente, é difícil avaliar os níveis de micotoxinas presentes nos cereais no campo. No entanto,
existe uma alta correlação entre grãos danificados, redução no valor
nutricional dos grãos e níveis de micotoxinas. Quanto
maior a porcentagem de grãos danificados, maior a probabilidade de eles terem
níveis elevados de micotoxinas e valor nutricional
mais baixo. Sendo assim, a utilização de um método constante
de monitoração, como por exemplo, o cálculo da porcentagem de grãos quebrados,
com algum tipo de dano físico ou com bolor, seguido de seu registro em
gráficos, torna mais fácil a identificação de quando há uma maior probabilidade
de ocorrer contaminação por micotoxinas ao longo de
um período maior de tempo. Se acompanharmos o exemplo no gráfico 1, é
possível ver um aumento no número de grãos danificados e uma redução nos teores
de gordura dos grãos nos meses entre dezembro e fevereiro, o que classifica
esse período como tendo um risco maior para problemas com micotoxinas.
Para relacionar esses resultados de qualidade dos grãos a problemas com a
saúde dos animais é necessário utilizar um programa constante de monitoramento
no campo, para avaliar os potenciais efeitos das micotoxinas
nos animais. Recomenda-se que o índice de desempenho animal
(consumo de ração, ganho de peso, produção de ovos, taxa de conversão
alimentar, etc.), a avaliação dos títulos vacinais (média e coeficiente de
variação da resposta de anticorpos vacinais), mortalidade, uso de medicamentos (para infecções secundárias) e
índice de descartes no abatedouro sejam monitorados, juntamente com exames
necroscópicos de um número representativo de animais. Todos os dados
registrados devem ser apresentados em um gráfico para serem comparados com os
resultados da qualidade dos grãos.
No exemplo no gráfico 2, se compararmos o período
crítico (no qual se identifica uma porcentagem maior de lesões na necropsia)
com o gráfico 1 (qualidade dos grãos) é possível observar que a maior
porcentagem de lesões pode ser correlacionada com o período de maior
porcentagem de grãos danificados. A partir daí podemos concluir que um aumento
nos problemas com lesões no campo é altamente influenciado pelo crescimento de
fungos e produção de micotoxinas nos cereais.
Utilizando as informações referentes a custos para o produtor (redução no
desempenho das aves, aumento nos gastos com medicamentos, aumento no descarte
de carne) é possível definir o custo aproximado da contaminação com micotoxinas.
Gráfico 1 - Porcentagem de grãos danificados, proteína
bruta e teor de gordura em cereais usados na ração
Gráfico 2 – Resultados de necropsias feitas no campo em
frangos de corte.