Autor : Franco Muller Martins; Dirceu João Duarte Talamini; Clênio Arboit; Nilson Wolozsim.
Sumário
Resumo
A forma de produzir suínos tem mudado da produção
independente para a integrada, da criação de todo o ciclo produtivo para a
divisão em fases, nas unidades de produção de leitões (UPL´s)
e nas unidades de terminação (UT´s),
com aumento do escala de produção. A integração possui a modalidade da parceria
na qual a empresa integradora assume maiores responsabilidades, coordenando as
operações e fornecendo os insumos. Do ponto de vista da pesquisa aplicada é
importante estudar a lógica destes arranjos até porque ele permite a inclusão,
numa cadeia organizada e coordenada, de pequenos produtores, cooperativas e
grandes industrias na produção e no processamento de
produtos agropecuários. O objetivo do trabalho foi o de analisar os resultados
econômicos para o produtor nas UPL´s e nas UT´s,
ambas integradas sendo que as UT´s produzem no
sistema de parceria. Os dados foram obtidos da Cooperativa de Produção e
Consumo de Concórdia - Copérdia, que atua no Alto
Uruguai Catarinense. Os resultados econômicos para o produtor foram melhores nas UT´s
do que nas UPL´s.
Palavras-chaves:
Propriedade Rural, Modelos integração, Agroindústrias
1.
Introdução
A suinocultura brasileira, com a produção de 2,7
milhões e 625 mil toneladas exportadas em 2005, ocupa o quarto lugar mundial
quanto à produção e exportação. A atividade é importante para agronegócio
brasileiro, principalmente para a região sul do país. Em Santa Catarina ocupa,
dentre os produtos da agropecuária, a segunda posição, após o frango, quanto ao
valor da produção (SINTESE..., 2005; ABIPECS, 2006).
Os sistemas de produção têm evoluído
continuamente elevando o grau de tecnologia empregada nas granjas e nas
agroindústrias. Nova tecnologia em geral exige maior investimento e
especialização e os produtores que não acompanham a produtividade exigida pelas
indústrias e não possuem uma escala competitiva acabam sendo excluídos da
cadeia (Zen et al., 2005;
Santos Filho et al., 1999; Talamini
et al., 1997). Até recentemente a produção ocorria no
sistema de Ciclo Completo (CC) que abrangia todo o ciclo - desde a reprodução
até o leitão atingir o peso de abate. Devido a necessidade de acelerar os
ganhos genéticos, a qualidade da carne e a segurança
alimentar está acontecendo uma rápida migração para sistemas
especializados ou na produção de leitões (UPL) ou na sua terminação (UT). Esta
separação permite melhor gerenciamento da produção que tem características
específicas em cada etapa.
A UPL é responsável pela reprodução e criação de
leitões em média até os 65 dias e
Mesmo diante da complexidade deste sistema o grau
de coordenação das integradoras é menor sendo a participação da cooperativa nos
custos totais de produção deste elo inferior a 3%. Os custos da cooperativa se
resumem na assistência técnica e no transporte de leitões para a UT (Talamini et. al., 2006). Na UT a exigência de cuidados do produtor é menor,
restringindo-se ao manejo sanitário e da alimentação.
Os insumos são fornecidos pela integradora.
Segundo a mesma pesquisa a participação dos custos da cooperativa neste sistema
é de mais de 95%. Na UT a cooperativa fornece a
assistência técnica, os leitões e o transporte dos terminados até a plataforma
de abate.
O objetivo do estudo é analisar indicadores
econômicos de curto prazo, ou seja, de um ciclo de produção, das UPL´s e UT´s
dos associados (e integrados) da Cooperativa de Produção e Consumo Concórdia - Copérdia. Esta cooperativa é afiliada da Cooperativa
Central Oeste de Santa Catarina e possui um quadro de 8. 700 associados
distribuídos pelos 18 municípios do Alto Uruguai Catarinense. A Copérdia, mantém integração com
227 criadores de leitões e com 265 terminadores. Além
do negócio suínos, que é o principal em valor,
dedica-se também ao leite, agricultura, citricultura e reflorestamento e possui
lojas de produtos agropecuários e supermercados nos municípios e distritos da
região.
2. Material e método
As informações necessárias ao trabalho foram
obtidas junto à base de dados e aos técnicos da Copérdia.
Isto permitiu conhecer a tecnologia usada e as características das transações
entre a cooperativa e os produtores para a aquisição das rações, medicamentos e reprodutores. Aspectos
importantes também identificados foram os critérios de remuneração ao produtor
pela venda dos leitões, reprodutores descartados e suínos terminados.
Os coeficientes técnicos da UPL
se referem a um
plantel formado, com fluxo normal de produção não
se considerando o período de
formação do plantel de reprodutores. Os preços
utilizados referem-se ao período
de fevereiro a abril de 2006. Na UPL os custos da cooperativa se
resumem à
assistência técnica na produção, a
seleção, vacinação, embarque e transporte
dos leitões da UPL até à UT. Na UT
a cooperativa assume o custo dos leitões, alimentação, medicamentos,
assistência técnica e transporte até o abatedouro. Os indicadores econômicos
analisados são o desembolso, a margem bruta, a margem de contribuição e o
lucro.
Para o cálculo da margem bruta duas situações são
contempladas: a primeira onde a mão de obra é incluída como despesa, ou seja,
onde existe o pagamento da mesma; a segunda onde o fator trabalho é considerado
um custo implícito, ou um ganho alternativo pelo uso da mão de obra familiar.
Estas situações, no entanto, não alteram o custo total de produção.
Para a obtenção dos indicadores econômicos é
necessário classificar os custos de produção sob duas perspectivas. Uma delas
deve levar em conta a variabilidade dos custos em relação ao volume produzido
onde se identifica se os custos são fixos ou variáveis. A segunda diz respeito
à necessidade de realização da despesa no curto prazo onde se identifica se o
custo é um desembolso monetário ou um custo não desembolsável.
O curto prazo é o período de tempo onde pelo
menos um dos fatores de produção permanece fixo. Na UPL considera-se curto
prazo o tempo necessário para a produção de um lote de leitões, ou seja,
partindo de um plantel formado, estabilizado e em produção, seria o
período entre a cobertura da fêmea e a entrega do leitão para a UT, o que totaliza 179 dias. No caso da
UT é o período entre o recebimento dos leitões e a entrega dos suínos
terminados para o abate, totalizando 120 dias. Assim, para os períodos
especificados não há alteração de fatores fixos como mão de obra, instalações
ou equipamentos.
Na prática pode não haver alterações em períodos
maiores mas preocupação aqui é dar ao trabalho um
conceito ao definir um período mínimo onde não há alteração destes fatores.
Contudo, a cooperativa pode, por exemplo, dependendo das condições do mercado,
antecipar ou o atrasar a entrega e recebimento dos animais, situação onde há
alteração, no curto prazo, no consumo de rações, água, e outros insumos. Com
isso é possível identificar os custos fixos e variáveis de responsabilidade do
produtor. Os fixos são aqueles que não se alteram no curto prazo mesmo se o
volume de produção for alterado. Os variáveis, por sua vez, estão relacionados à alterações no volume de produção dentro de um ciclo.
Assim, para a UPL e para a UT
os custos fixos são representados pela mão de obra, depreciação de instalações
e equipamentos e juros sobre o capital fixo. O capital fixo é representado pelo
investimento em instalações e equipamentos, sendo que na UPL ele é acrescido do
investimento no plantel de reprodutores. Os custos variáveis são compostos
pelas despesas com ração, medicamentos, manutenção, material de consumo e Funrural (apenas na UT).
Para calcular os indicadores é necessário,
inicialmente, identificar o desembolso, isto é, a soma de todo valor despendido
ou pagamento efetuado para obter a produção. Neste item são
considerados a mão de obra, medicamentos, energia elétrica, água, manutenção.
Outros itens podem ser incluídos dependendo da estratégia de coordenação da
integradora sobre as obrigações dos integrados. Na criação de leitões, por
exemplo, o valor das rações é desembolsado pelo produtor o que não ocorre na
terminação onde a ração é fornecida pela cooperativa. O custo total de produção
abrange os desembolsos e não desembolsos como a depreciação de instalações e
equipamentos e os juros sobre os investimentos no capital fixo. Considerou-se valores de estruturas novas sendo o custo da
depreciação calculado pelo método das cotas constantes (Casarotto
& Kopittke, 2001) e os juros de 6% ao ano
aplicados sobre o valor médio do capital investido (Hoffmann et al., 1987). Este estudo não considera despesas gerais da
propriedade e outros custos que incidiriam de forma indireta nos custos de
produção da UPL e UT.
Outro indicador é a margem bruta, obtida pela
diferença entre a receita e o desembolso em um dado período, sendo, na prática,
resultado do fluxo de caixa. Segundo Martin et al. (1998) o fluxo de caixa é o indicador
mais utilizado pelos empresários rurais para medir o resultado de uma atividade
e verificar o volume de recursos que estarão disponíveis.
A receita depende do volume de produção e dos
critérios de remuneração adotados pela cooperativa que serão explicados quando
da apresentação de cada caso. Se a margem bruta é positiva o sistema está tendo
a capacidade de remunerar os desembolsos na produção.
O que se espera é que ela seja capaz de cobrir os
demais custos - depreciação, juros sobre capital e capacidade empresarial que pode, neste estudo, ser a remuneração da mão de obra do
próprio produtor, tornando-se um custo implícito. A margem de contribuição é o
próximo indicador, sendo obtida da diferença entre a receita e os custos
variáveis. Esta margem é avaliada quanto à sua capacidade de remunerar os
custos fixos. Quanto maior a diferença entre a margem de contribuição e os
custos fixos maior a consistência econômica no curto
prazo.
Este índice também foi calculado de forma
unitária, o que permite observar quanto cada item produzido e comercializado,
contribui para cobrir o seu custo fixo médio. Neste trabalho as unidades de
produção são o leitão, o kg do leitão, o suíno terminado e o kg do mesmo. Foi
calculada também a razão entre a margem de contribuição e os custos fixos para
indicar de forma mais clara a capacidade de remuneração da margem. O lucro é
dado pela diferença entre a receita e o custo total e, quando positivo, indica
a capacidade do sistema em remunerar os desembolsos, a depreciação e gerar
algum saldo para o produtor. Se o lucro é negativo o sistema
não está remunerando os custos totais, ou seja, no mínimo, não está tendo
capacidade de gerar recursos para repor o desgaste do capital fixo usado na
produção o que gera a necessidade do uso de empréstimo para repô-los ao final
de sua vida útil.
Uma ressalva importante deve ser considerada na
interpretação destes indicadores. No custo total e no lucro a depreciação, que
não representa um desembolso, interfere nos resultados. Como não se dispunha de
dados de pesquisa de campo com a data da construção e o tempo de utilização das
pocilgas e equipamentos assumiu-se que eles seriam novos.
No entanto, quando as instalações e equipamentos
são mais antigos o cálculo da depreciação parte de um valor inicial menor,
resultando num custo mais baixo e lucro maior, o que deve ser considerado na
interpretação dos resultados deste trabalho. Desembolso, margem bruta e margem
de contribuição são indicadores que só levam em conta fluxos de caixa, ou seja,
receitas ou despesas associadas à produção. Considera-se despesa todo
desembolso associado diretamente à produção e não despesas gerais ou
administrativas indiretas. Assim, justifica-se o uso desta nomenclatura
para designar fluxos monetários necessários ao pagamento de insumos e de outros
fatores de produção.
O total de desembolsos é obtido da diferença
entre os custos totais e a soma dos custos não desembolsáveis
que são a depreciação e os juros sobre o capital fixo. Os fluxos de caixa são
oriundos da base de dados da cooperativa e refletem os resultados de unidades
de produção que possuam os coeficientes técnicos e padrões gerencias
especificados neste estudo.
3. Análise econômica dos sistemas de produção
3.1. Unidade de produção de leitões (UPL)
A UPL é destinada a produção e criação de leitões
até que atinjam peso e idade adequados para serem transferidos às UT´s. São gerados lotes de
leitões em intervalos de 21 dias resultando em 7 lotes por ano, que decorrem do
intervalo entre a desmama e o cio, da duração da gestação e da duração média do
aleitamento (Morés e Amaral, 2003).
Tabela 1. Coeficientes Técnicos na
Produção de Leitões
Os principais coeficientes técnicos deste sistema
estão na Tabela 1.
A remuneração dos leitões
depende de indicadores ligados a três faixas de pesos, sendo a pesagem feita
para cada animal. O produtor receberá a pontuação máxima se atender requisitos gerencias apontados pela cooperativa e entregar os leitões
com peso entre 19 e
Tabela 2. Exemplo de cálculo para remuneração
de um leitão com
Os valores que a cooperativa adotava para
pontuação e para acréscimo no preço base, que era de R$ 1,60 em março de 2006,
estão na Tabela 2 juntamente com um exemplo de remuneração de um leitão com o
peso médio de entrega as UT´s
que é
A receita de uma UPL decorre da venda dos leitões
e dos reprodutores descartados, deduzida a mortalidade das fêmeas, conforme
Tabela 3.
Tabela 3. Composição das
receitas na UPL
Os custos de produção da cooperativa e do
produtor na UPL, calculados conforme Talamini et al
(2006), estão na Tabela 4. Observa-se que o produtor assume 97,06% do custo
total sendo a ração o item de maior participação com 67,47% do total.
Tabela 4. Custos agregados ns Unidade de Produção de Leitões.
3.1.1. Indicadores Econômicos na UPL
Conhecidas as receitas e dos custos de produção é
possível desenvolver a análise econômica de curto prazo. No entanto, para
determinar a margem bruta e a margem de contribuição é necessário classificar os
custos. Subtraindo-se do custo total do produtor a depreciação e os juros sobre
o capital fixo obtêm-se o desembolso na produção. Os custos de produção devem
ainda ser classificados em fixos e variáveis. São
custos fixos a depreciação, os juros sobre o capital fixo e a mão e obra e os
demais variáveis (Tabela 5).
Tabela 5. Classificação dos
custos na UPL
A Tabela 6 mostra a margem bruta de R$12.675,70
por ano, R$6,56 por leitão e R$0,27 por kg, com um retorno de 9,71% sobre o
desembolso de 0,98% sobre os custos totais. A discussão deste índice merece uma
atenção especial quanto ao custo da mão de obra, pois embora sem uma referência
estatística é do conhecimento dos técnicos da Copérdia que a maioria dos produtores utilizam mão de obra
familiar, não existindo um desembolso e sim um custo de oportunidade. Com a não
inclusão da mão de obra nos desembolsos estes ficariam reduzidos a R$122.589,23
e a margem bruta aumentaria para R$20.595,70. A margem de contribuição foi de
R$20.595,70 por ano, R$10,66 por leitão e R$0,44 por kg. Como o custo fixo é de
R$ 19.211,04 esta margem se revela muito ajustada. A diferença é de apenas
7,21% em relação ao custo fixo. Este índice revela que o sistema é bastante
sensível a alterações no fluxo de receitas e/ou despesas. Contudo, como
depreciação e juros não são desembolsos, e ainda se a mão de obra for tratada
como custo implícito, estes índices não geram necessidades financeiras de curto
prazo.
Tabela 6. Indicadores de
Resultado na UPL.
É importante ressaltar que mesmo não havendo
necessidade de cobrir os custos fixos no curto prazo é necessário utilizar os
mesmos como referência na avaliação da eficiência econômica do sistema. O custo da mão de obra e dos juros servem para verificar a
capacidade do sistema compensar o trabalho e o capital investido na
alternativa. A depreciação indica a necessidade da contribuição anual a um
fundo de reserva que no futuro possibilite investimentos que, no mínimo,
mantenha a capacidade produtiva da UPL.
O lucro, ou seja, a diferença entre a receita e o
custo total, resultou em R$1.384,66 por ano, R$0,72 por leitão e R$0,029 por kg. Este índice se revelou bastante baixo mesmo
sabendo-se da inclusão dos custos não desembolsáveis no seu cálculo. Dividido
pela receita mostra uma lucratividade de apenas 0,92%, ou seja, menos de 1% das
receitas retornam como disponibilidade ao produtor.
Os indicadores revelam uma grande vulnerabilidade
do sistema a fatores que interferem no fluxo de caixa como alteração na
remuneração dos leitões, na produtividade e no preço de insumos, especialmente
da ração. Se o produtor decidir fazer reserva financeira anual num valor
correspondente à depreciação a sobra de caixa seria equivalente ao lucro que se
revelou bastante reduzido em relação aos custos totais. Analisando o lucro
anual do ponto de vista de impacto na renda familiar ele seria pouco superior a
três salários mínimos o que é considerado baixo para uma propriedade que não
possua outra fonte de renda. Importante lembrar, no entanto, que se o produtor
estiver utilizando mão de obra familiar esta renda aumentaria em R$7.920,00 ao
ano, que, somada ao lucro daria R$9.095,43 ou quase 26 salários mínimos e uma
renda de 4,70 por leitão. Estes valores entrariam na renda familiar mesmo após
o produtor ter feito a reserva de capital referente à depreciação que é de
R$6.148,80 ou cerca de 18 salários mínimos. O custo da
mão de obra ingressa como renda familiar somando-se ao valor da depreciação e
caso exista desinformação quanto a sua função para manutenção da capacidade
produtiva a longo prazo pode levar o produtor a
entender, equivocadamente, a margem bruta como renda para consumo.
Esta conclusão não considera os juros por estes
servirem apenas como parâmetro de verificação da eficiência econômica. Ou seja,
ao contrário da depreciação que entendida corretamente leva o produtor a fazer
a reserva de capital, os juros não interferem em fluxo de caixa mesmo no longo
prazo. A Figura 1 mostra os indicadores (Margem Bruta =MB; Margem de
Contribuição = MC; Lucro = L; Custo Total = CT; Receitas= R) em R$/leitão.
Figura 1. Indicadores de econômicos da UPL
3.2 Unidade
de Terminação de Leitões (UT)
A Copérdia possui 265
parceiros nas UT´s, que recebem os leitões das UPL´s
e os criam até o abate sendo responsável pela assistência técnica, fornecimento
dos leitões, ração e medicamentos bem como do transporte dos leitões até a UT e
dos terminados até o abate. O produtor fornece a estrutura para a produção,
segundo os padrões da integradora, bem como a energia elétrica, água, mão de
obra e outros. O estudo se refere a uma unidade de produção representativa que
aloja 350 suínos por lote, e devido a mortalidade de
3,5 %, entrega 338 animais com 118 quilos de peso vivo. O período de produção é
de 120 dias que, somado aos 10 dias de vazio sanitário, permite produzir 2,8
lotes por ano (Tabela 7).
Tabela 7 . Coeficientes
Técnicos na UT.
Os custos de produção da cooperativa e do
produtor na UT, incluindo o Funrural,
imposto de 2,3% que incide sobre a remuneração recebida pelo suíno, estão na
Tabela 8.
Tabela 8. Custos do suíno vivo na
terminação.
Na UT a distribuição de
custos totais se inverte em relação à UPL, sendo 4,72% do produtor e 95,28% da
cooperativa. A remuneração do produtor também é diferente, sendo o valor pago
por animal produzido baseado no preço do suíno, no consumo de ração no peso e
na qualidade da carcaça. O valor médio pago no período de análise foi de R$
14,37 por animal terminado e entregue à cooperativa.
3.2.2. Indicadores econômicos na UT
Assim como na UPL e seguindo os mesmos
procedimentos, classificaram-se os custos do produtor para que possam ser
calculados os demais indicadores (Tabela 9). A MB anual, considerando o custo
da mão de obra nos desembolsos foi de R$7.708,97, R$8,15 por leitão e
R$0,33 por kg e supera em 30,9% os desembolsos,
indicando uma boa disponibilidade de capital para cobrir os demais custos da
atividade.
Tabela 9. Classificação dos custos na UT ,considerando a mão de obra como desembolso.
Se a mão de obra for entendida como um custo
implícito, ou custo de oportunidade pelo emprego do trabalho familiar, os
desembolsos na UT se limitariam a R$1.930,79. A MC foi
de R$11.698,97 por ano, R$12,33 por leitão e R$0,246
por kg, sendo 72% maior que os custos fixos. O lucro de R$ 4.918,37 por ano,
R$5,20 por terminado e R$ 0,21 por kg, leva a um índice de lucratividade de
36,37% (Tabela 10 e Figura 2).
Tabela 10. Indicadores de resultado na UT.
Figura 2 - Indicadores de
econômicos da UT
3.3 Análise
comparativa entre UPL e UT
Os índices são comparados em R$/Suíno pois os sistemas. possuem
processos, investimentos e desembolsos de curto prazo diferentes e escalas não
ajustadas (UPL para a UT) como numa cadeia fornecedor - cliente. São feitas
também considerações sobre o grau de ingerência da cooperativa, a participação
dos custos do produtor , e riscos em cada caso. Os
indicadores tendo o custo da mão de obra como desembolso e como custo de
oportunidade, quando a mão de obra é da família, estão
na Tabela 11.
Tabela 11. Análise comparativa dos
sistemas
Observa-se a superioridade das UT’s em todos os indicadores. Quando a mão de obra é
considerada desembolso, a margem bruta e a margem de contribuição são 1,24 e
1,16 vezes superior, respectivamente, às obtidas na UPL. O custo fixo da UT é 28% menor que o da UPL. No entanto é no lucro que se
percebe a maior diferença em favor da UT - uma relação
UT/UPL de 7,25.
O fato de considerar ou não a mão de obra como
fluxo de caixa afeta apenas a margem bruta. A vantagem que era de 24% a favor da UT cai para 16% devido ao custo da mão de obra ser maior
na UT que na UPL.
Os sistemas de produção são complementares e esta
análise não é feita no sentido de compará-los como alternativas mas para entender as vantagens e desvantagens de cada um e
relacioná-las com o grau de interferência da cooperativa, participação dos
custos do produtor e riscos associados. Neste sentido cabe inferir porque na
UPL, onde o produtor assume 97% dos custos e a cooperativa resume seu papel à
orientação e assistência técnica, os indicadores econômicos foram menos
favoráveis.
Na UPL resta ao produtor procurar alternativas
para reduzir seu custo via aumento da produtividade e/ou redução do custo dos
fatores de produção. A cooperativa, por outro lado, poderia exercer maior grau
de ingerência em questões onde existe flexibilidade para o produtor, com um
maior grau de coordenação, padronização e treinamento dos técnicos e dos
produtores. Estas ações poderiam levar à melhoria nos indicadores.
Um exemplo seria a
redução do custo da ração da
cooperativa, que poderia viabilizar maior uso, ganhos de escala na
produção e
distribuição além de ganhos de produtividade. Esta
reflexão surge à luz do que
ocorre na terminação onde a parceria emprega instrumentos
mais firmes de
coordenação e a cooperativa, além da
assistência técnica fornece os leitões e a
ração. A coordenação é mais ajustada
e a participação da cooperativa é maior e
o custo do produtor se limita a 4,72% do total, sendo a mão de
obra o item de
maior peso, com 67%.
Ainda assim, com o emprego da mão de obra
familiar este custo não representa um desembolso, o que, associado a uma
possível falta de percepção do papel da depreciação, supõe-se ser o motivo da
atração da parceria aos produtores. Estas colocações não são conclusivas e
fazem inferências que devem ser confirmadas em estudos futuros.
4. Conclusões
Este trabalho obteve indicadores de curto prazo
para as UPL´s e para as UT´s, sendo os indicadores das primeiras bem menos favoráveis
que os da segunda. Na UPL o lucro revela quase que um ajuste entre
receitas e custos. A margem de contribuição também se mostra quase ajustada aos
custos fixos. A margem bruta porém, revelou que o
sistema tem capacidade de remunerar seus desembolsos. O custo do produtor neste
sistema é de 97,06% e como a participação da cooperativa é baixa os riscos do
produtor são altos. Um aperfeiçoamento nos instrumentos de coordenação da
cooperativa poderia aprimorar o padrão gerencial dos produtores e reduzir os
custos de produção.
Na UT os indicadores
revelam uma menor vulnerabilidade do sistema aos riscos de produção e de
mercado indicando boas margens no lucro, na margem bruta e na margem de
contribuição. Neste sistema o produtor, que absorve apenas 4,72% dos custos,
tem mais retorno e está sujeito a menor risco pois a
participação e o grau de coordenação da cooperativa são maiores. A não inclusão
do custo da mão de obra como desembolso influi no valor da margem bruta dos
sistemas avaliados e supõe-se ser este, associado ao entendimento das provisões
para a depreciação, os fatores que mantém e atrai os produtores para a produção
integrada de suínos. Esta hipótese deve ser melhor
explorada em estudos futuros.