Autor : Julian Cristina Borosky
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O milho é uma das principais fontes de
energia para a alimentação humana e para os animais. Dentro do contexto da
alimentação animal, a disponibilidade desse insumo afeta diretamente o custo de
produção de aves e suínos e sua qualidade pode afetar o desempenho zootécnico.
A composição e qualidade bromatológica
do milho
pode ser influenciada pelo tipo de solo, adubação,
condições climáticas e tipo
de híbrido, além de possíveis
contaminações química, física e
microbiológica.
Os fungos são a principal causa de deterioração
e as perdas são
imperceptíveis a olho nu. Os prejuízos de sua
ação só são visíveis em nível
de consequencia econômica (Puzzi,
1986).
Além desses prejuízos econômicos, os fungos são produtores de micotoxinas, que, quando consumidas pelos animais, podem
deprimir o desempenho zootécnico como também desencadear doenças específicas
(como o caso de edema pulmonar em suínos, que é associado a
fumonisina).
Segundo Tanaka et al (2001)
o milho pode ser contaminado por vários tipos de fungos , desde a sua formação,
durante o seu desenvolvimento e também após a colheita, no armazenamento.
O controle fúngico deve ser iniciado na lavoura e
se extender durante todas as etapas de processamento
e armazenamento do grão até seu uso como matéria-prima para ração.
Tradicionalmente divide-se os fungos presentes na
cultura de milho em dois grupos: os de campo e os de armazenamento. Essa
divisão ocorreu pela observação mais comum de determinadas espécies durante um
período ou outro, no entanto os fatores inerentes da contaminação por um gênero
ou outro é a temperatura e a umidade relativa do ar.
O surgimento de fungos típicos da armazenagem, ainda no campo depende das
condições climáticas durante a cultura e, o tempo de sobrevivência dos fungos
que normalmente crescem no campo depende das condições climáticas do armazém.
Fungos do gênero Fusarium são normalmente encontrados
em culturas de milho, ainda no campo, podendo ser isolados na maioria dos
grãos, inclusive aqueles que parecem saudáveis (Hesseltine
et al., 1981 citados por Marassas et al., 2000).
Quanto aos fungos mais frequentemente encontrados
durante o armazenamento destacam-se o Aspergillus spp. e Penicillium
spp. (Tuite et al., 1985; Luz, 1995; Pinto,
1998). A figura 1 mostra um resumo das principais variáveis ambientais que
determinam o crescimento fúngico no armazém e no
campo, bem como as principais espécies e toxinas por elas produzidas.
Figura 1:.
Classificação dos diferentes tipos de fungos, local de crescimento e produção
de micotoxinas, segundo as características de umidade
relativa do ar e atividade de água do grão (Selko,
2011).
O período e condições de
armazenamento está diretamente relacionado com a qualidade final do
milho.
O armazenamento de grãos pode ser definido como
um ecossistema em que, mudanças qualitativas e quantitativas podem ocorrer
devido a interações entre fatores químicos, físicos e biológicos (Faroni et
al, 2005).
Os fatores mais importantes que afetam o grão
durante o armazenamento são: temperatura, umidade e concentração de dióxido de
carbono e oxigênio, características dos grãos, presença de microorganismos,
insetos, condições do clima e estrutura do grão (Sinha,
1973).
Segundo a literatura, a faixa de temperatura
favorável para o crescimento fúngico é muito ampla,
abrangendo temperaturas de
Dessa forma, a umidade relativa do ar e a
atividade de água do grão são fatores limitantes para o crescimento fúngico e produção de micotoxinas.
A tabela 1 apresenta os resultados de um trabalho
que avaliou a influência da umidade no interior do silo e da atividade de água
do grão sobre de crescimento fúngico durante os 10
primeiros dias de armazenamento de milho, sob temperatura ambiente de 30 graus
e umidade relativa do ar de 85%.
Tabela 1:. Crescimento
fúngico, umidade e atividade de água do grão nos 10
primeiros dias de armazenamento, em temperatura ambiente 30oC
e URA de 85%.
Por sua vez, a tabela 2 demonstra valores de
atividade de água do grão, relacionada com o crescimento fúngico
e para a produção de micotoxinas.
Tabela 2:. Atividade de água mínima para crescimento fúngico e produção de micotoxinas.
A literatura tem apontado também que silos
metálicos, expostos diretamente ao sol, favorecem a tranferência
de umidade em seu interior.
A Incidência solar sobre a parede metálica
favorece a um aquecimento exacerbado na massa de grãos, promovendo evaporação
da umidade. Durante a noite, a temperatura das paredes e do teto do silo se
encontra mais baixa promovendo a condensação da umidade do ar interno e consequente gotejamento sobre a massa de grãos armazenada
(figuras 2 e 3).
Figura 2:.
Esquema da distribuição da umidade em silos metálicos.
Figura 3: milho brotando no topo
da massa armazenada, devido a gotejamento (autor desconhecido.)
Vários achados na literatura
demonstram que a infestação por insetos durante o armazenamento provoca danos
ao tegumento dos grãos, produz gás carbônico (CO2) e água (H2O), contribuindo
para o aumento do teor de umidade, que, por sua vez, aumenta a respiração dos
grãos e, conseqüentemente, a temperatura, facilitando a multiplicação dos
fungos (Penz Jr, 2010; AGRAWAL, 1957; MATIOLI
e ALMEIDA, 1979; PUZZI, 1986).
Como citado anteriormente, um dos resultados da
contaminação fúngica é a depreciação bromatológica do milho. A tabela 3 apresenta resultados de
uma análise bromatológica de milho classificados como
"bom" e "fungado".
Tabela 3: Comparação bromatológica de milho bom com milho fungado.
Como visto acima, o principal nutriente consumido pelo fungo é a energia do milho, presente no gérmen. Sabe-se também que os carotenos responsáveis pela coloração do grão também se encontra no gérmen, então espera-se que milhos contaminados apresentem uma coloração mais pálida quando comparados com grãos classificados como "bons" (figura 4).
Figura 4:.
Milho fungado comparado com milho bom (autor desconhecido.)
Baseado nessas informações fica evidente a necessidade de se obter condições
ideais de armazenamento de grãos, que atendam as necessidades básicas de
beneficiamento e tratamento contra pragas.
Segundo Silva (2005), os cuidados mínimos
necessários para armazenamento adequado de milho envolve:.
• realizar a colheita tão logo seja atingido o teor de umidade que permita
proceder a operação;
• ajustar os equipamentos de colheita para proceder a máxima limpeza da massa
de grãos e evitar danos mecânicos;
• desinfetar as instalações e os equipamentos de colheita;
• limpar os silos e graneleiros removendo pó, lixo e
outros materiais;
• proceder de forma correta as operações de pré-limpeza e limpeza; removendo
impurezas, grãos danificados, finos e materiais estranhos;
• proceder a operação de secagem de forma correta garantindo a redução e
uniformidade do teor de umidade a níveis que não permitam o desenvolvimento de
fungos;
• monitorar a temperatura da massa de grãos e aerar sempre que necessário, para
uniformizar a temperatura;
• adotar técnicas para o controle de insetos e roedores, pois geralmente a
proliferação dos fungos está associada ao ataque destas pragas.
Dentres os diferentes tipos de tratamento
disponíveis, as misturas de ácidos orgânicos têm se mostrado eficientes no
controle do crescimento fúngico.
Segundo Penz Jr e colaboradores (1983) o uso dessas
misturas parece inibir o desenvolvimento de fungos e potencializar a
disponibilidade de nutrientes de matérias primas e rações.
Essa inibição ocorre pois os ácidos orgânicos têm
baixo potencial de ionização e são potentes inibidores do transporte de
aminoácidos por parte da célula fúngica, pela
ionização interna do citoplasma e acidificação do conteúdo celular, impedindo a
sobrevivência do microorganismo (Santurio, 1995)
Grigoletti e colaboradores (2007) estudaram
diferentes inclusões (0; 1,0; 1,5; 2,0 e 2,5 l/ton de
milho) de uma mistura de ácidos orgânicos (propiônico,
acético, outros ácidos e seus sais de amônia) na preservação de milho
contaminado por fungos e micotoxinas durante seu
armazenamento. Durante esse período os autores coletaram amostras para análise bromatológica, micológica e de toxinas.
Os autores concluíram que a associação de ácidos orgânicos foi eficiente
para reduzir a contaminação fúngica no milho
armazenado e que o tratamento mais eficiente foi a
dosagem de 2,5 L/ton.
Resultados semelhantes também foram observados por Martinez e colaboradores
(2000), eles avaliaram diferentes fontes de ácido propiônico
na conservação de milho inoculado experimentalmente por A. flavus
durante 30 dias de armazenamento. Os autores também observaram redução na
contaminação por aflatoxina nas amostras tratadas com
ácido propiônico em detrimento as amostras não
tratadas e contaminadas pelo fungo.
Considerando que todos os nutrientes das dietas animal são calculados pelo
teor de energia da dieta e, sendo o milho a principal matéria-prima energética
das formulações, o uso de farelo desse insumo contaminado por fungos trará
sérios problemas para o desenvolvimento animal. Pesquisas têm sido
desenvolvidas a fim de se buscar alternativas para contornar os problemas
relacionados ao menor valor nutricional dessas dietas, porém os riscos das micotoxinas continuam elevados, havendo necessidade de se
buscar outros aditivos que reduzam a absorção desses metabólitos fúngicos pelos animais, aumentando assim os custos finais
com formulações.
Em contra-partida, o tratamento do milho com ácidos
orgânicos durante o armazenamento tem se mostrado mais eficiente para controle
das micotoxinas e preservação da qualidade
nutricional do grão com custos menores se compararmos às alterativas
disponíveis para corrigir esses desvios durante a formulação.